sexta-feira, 14 de setembro de 2007

ELOGIO AO ÁRBITRO

Documento enviado por João Paias Gaspar:
"Todos começam a competição na busca de um lugar que, à partida, acreditam dever merecer: é a equipa A que julga alcançar o primeiro lugar, desiderato que as equipas B e C igualmente almejam, jogam à bola que se farta! São equipas bestiais! São as equipas D, E e F que se julgam com potencial para discutirem também o título, mas… ainda lhes falta maior consistência, aquelas no aspecto defensivo e esta no aspecto ofensivo; os treinadores estão preparados e motivados! As outras ? As equipas G,H,I e…J…
Apenas querem manter-se nesse escalão… estão no seu direito.
Mas quem são aqueles gajos?! Aqueles, ali, a correrem de um lado para o outro, um com o apito na boca e os outros dois com uma bandeira na mão? Aqueles são os que ninguém conhece pelo nome mas que muitos sócio-desportivos diminuídos se arrogam o direito de os baptizar: são os gatunos, os ladrões, são os “vai p’ra casa, malandro”, “ viste ao contrário ó ceguinho!”, “vê lá se aprendes!”. Outros nomes de baptismo com água sebenta que são atribuídos aos tais gajos de apito na boca, reservo-me o direito de não os divulgar aqui. Aliás, são por todos conhecidos e uma repetição poderia ser acusada de plágio. Só não o seria se desse a conhecer a origem, os autores, os baptistas, mas isso levar-me-ia a ter de identificar uma boa e significativa parcela dos frequentadores de estádios, recintos desportivos, e outros locais onde a requintada falança lusitana faria inveja às dos autos de Gil Vicente… o poeta, escritor, diga-se. Não. Não divulgo!
Regressemos então à competição. Começou. A festa do futebol aí está para gáudio de muitos. Jogadores, treinadores, dirigentes, adeptos, etc…etc!!

Ah! Mas voltamos aos tais gajos, nomeados para a árdua tarefa de, em fracções de segundos, em inúmeros jogos, julgarem os desempenhos técnicos e erros de cada um, com a bola ou sem ela; julgarem as faltas atacantes e as dos defensores; decidirem “na hora” se foram ou não praticadas incorrecções; se a falta aconteceu dentro ou fora da área. Se o golo foi obtido de forma regular ou irregular. Se houve ou não fora de jogo Enfim, julgarem as múltiplas situações que constituem um jogo de uma das mais complexas modalidades desportivas que se conhecem. E procuram julgá-las com acerto.

Mas… a cada apitadela, um coro de assobios e impropérios! A cada bandeirada a punir infracção cometida pelos da sua cor, um ror de maledicências!

Faça-se então o equilíbrio entre uns e outros.

A cada passe mal feito que um atleta faça, assobiadela; a cada grande penalidade falhada, assobiadela; a cada drible não conseguido, “vai p’ra casa, malandro!”; a cada perda de bola, “vê lá s’aprendes, ó meu…”; a cada remate falhado: ”não sabes mudar de direcção, desgraçado!” (Traduza-se malandro, as reticências e desgraçado pelos impropérios que aqui não são divulgados…) E por aí fora. Isto, quanto a jogadores.
Então, e os treinadores? Que é feito dos ensinamentos, conceitos e princípios que se adquirem nos cursos, nas reciclagens, nas conferências e simpósios? Será necessário incluir nas diversas e variadas acções de formação um tema que em cada dia se torna mais premente abordar: as relações humanas? O respeito pelo jogador não faz parte da cartilha do treinador? Um célebre treinador escandinavo disse um dia: “tenho pelos meus jogadores o mesmo respeito que eles têm por mim”. Não haverá um jogador português de nomeada que inverta a situação e fique na história, afirmando: “tenho pelo meu treinador o mesmo respeito que ele tem por mim?”
Paralelamente, não existirá um árbitro de grande prestígio, passado, actual ou futuro, que afirme convictamente e sem qualquer hesitação, e não se afastando um milímetro da verdade, que nunca, nem antes, nem agora, nem futuramente, “um árbitro faltou ou faltará ao respeito a um treinador, como um treinador já o fez a ele?” Aguardemos, a ver se mudamos a agulha da linha de conduta.

Mas ainda temos os dirigentes…
Como é possível? Como, diabos me levem! Ainda é possível?! Actuações bem negativas em relação aos árbitros. Infâmias. Basta! Temos de entrar decididamente no bom comportamento universalmente aceite e não criarem escola com os seus exemplos. Porque como é sabido, os maus exemplos são os mais fáceis de seguir, e mais quando vêm de cima.

Voltemos à Festa do Futebol. E voltamos com gosto! “Lamento que tenha terminado” é a frase que mais se ouve e que traduz bem o estado de espírito que se apoderou de cada um de nós e a emoção fortemente sentida no último acto do acontecimento.
Mas também uma vincada tristeza. Uma assobiadela injusta, não só pelo momento que se viveu mas principalmente porque os honestos e competentes, embora um ou outro menos experiente, companheiros árbitros a não mereciam.
Se é tradição ofender o árbitro, acabemos com uma tradição que nos envergonha.
Se é falta de educação ou de princípios, reciclemo-nos todos, com urgência!
É que a próxima Festa do Futebol é já a seguir e, como tudo indica, dentro dos mesmos padrões de protagonismo. Iniciemos então os treinos do comportamento em todos os campos de Futebol do espaço nacional. Em cada campo, em cada jogo, em cada prova, em cada escalão etário, todos nós, dirigentes, jogadores, árbitros, treinadores cuidando de nós próprios e dando exemplos favoráveis a uma formação bem diferente para melhor, dirigida ao público que nos observa e que pode, e deve, alterar a sua atitude, influenciado pelo nosso comportamento. Uma Festa tão bela, de tão grande dimensão, não pode incluir nem um senão, nem sequer um mas. Só tem de transbordar de beleza, alegria, amizade, companheirismo. O Futebol é isso mesmo. E o Árbitro também é Futebol."
João Paias Gaspar
Leiam com bastante atenção esta crónica de opinião!

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